As Mulheres no Mercado de Imagem – Entrevista com Olga Santos

Hoje, no Projeto Cria, conversamos com Olga Santos, uma talentosa produtora audiovisual de 37 anos de Belo Horizonte. Com sua abordagem autêntica e apaixonada, Olga transforma momentos especiais em histórias vívidas e inesquecíveis, deixando sua marca no mundo do audiovisual, com destaque especial para os casamentos.

“A possibilidade de contar uma história totalmente diferente a cada fim de semana me fascina. Muda o cenário, mudam as pessoas, muda o desafio.”

Olga Santos

F: Como e quando foi o seu início no mundo do audiovisual? 

O: Eu vim do mundo da Publicidade, trabalhei por vários anos como diretora de arte, então de alguma forma eu já me comunicava através de narrativas visuais. Em paralelo a isso, o universo dos filmes sempre me encantou (eu era daquelas crianças que aguardava ansiosamente o fim de semana pra alugar 2 fitas VHS na locadora). 

Lá pra 2011/12 comecei a participar de concursos online – desses que davam um prêmio pra frase/foto/vídeo mais criativo. Foram muitas tentativas, e nesse meio do caminho ganhei ingressos de cinema, camisetas, celular e (rufem os tambores aqui): uma breve viagem ao Japão. Nesse último concurso específico o desafio era produzir um vídeo contando “por que você merecia ser o embaixador da marca X nessa viagem” e numa era totalmente pré-Tik Tok eu peguei minha Cybershot de 2 megapixels e produzi um vídeo com transições, roteiro, sacadas diferentes – tudo de maneira bem caseira, claro.

Por causa da viagem, comprei uma câmera DSLR e editei um vídeo do rolê todo. Postei no Facebook na época, o retorno foi muito legal e enxerguei ali uma possibilidade de ingressar no audiovisual. A partir daí produzi tudo quanto é tipo de vídeo: pra banda que tocava no barzinho da esquina, pra lanchonete, ação de Natal de shopping, e por fim, dei essa guinada pro mundo dos casamentos – incentivada por um amigo fotógrafo na época. Como eu não sabia NADA desse universo, comecei como freela de algumas empresas que me identificava.

F: Nos conte um pouco sobre seu estilo de trabalho e também sobre sua marca “Olga Filmes”.

O: O nosso lema é “filmes sem receita de bolo” e é assim que a gente se guia no dia a dia. Encaro cada filme como único então me dedico bastante a pré-produção. Tá, já entendi que se trata de um casamento, mas QUEM são aquelas pessoas? Do QUE elas gostam? POR QUE elas tomaram essa decisão? Nos munir de informações faz toda a diferença durante a captação porque saímos do genérico que tanto me incomoda, sabe? Por exemplo: um terço pode ser “só mais um terço” compondo a produção de uma noiva ou pode ser “O terço” que passou de geração em geração da família, repleto de significado.

No momento da captação eu acredito muito no envolvimento. Por isso é comum eu me emocionar com alguma fala, vibrar com uma música que a banda toca. Somos partes vivas daquilo também, e estar 100% presente naquele dia influencia muito no resultado.

Por fim, outro ponto crucial é a edição. E aqui sou do time que processos criativos precisam de tempo, e não podem acontecer no volume. Não adianta eu querer mergulhar e criar uma narrativa incrível para cada história/casal, e filmar 60 casamentos num ano. É uma conta que não fecha, sabe? (aprendi essa na marra, inclusive).

Para isso também eu procuro posicionar cada vez mais a Olga Filmes no mercado, compartilhando muito do que acredito, de como trabalho, e às vezes dando umas opiniões bem sinceronas na internet. Mas é justamente assim, saindo de cima do muro, que atraímos o cliente que vai realmente dar “match”.

Hoje a marca tem uma visibilidade muito interessante, atraímos clientes de diferentes partes do mundo, tanto que me especializei em destination weddings e já fui contratada para filmar em 17 países diferentes – da Tailândia à África do Sul.

F: O que te levou a focar nos vídeos de casamento? 

O: Apesar de eu querer ter uma história romântica para contar aqui, a real é que eu caí de paraquedas nessa área. Não era um nicho que me interessava, pelo contrário: achava tudo muito igual e meio monótono. (parênteses: estamos falando do mercado de casamentos há 10 anos)

Nesse meio tempo, fui apresentada para uma nova linguagem que alguns profissionais estavam experimentando: vídeos mais curtos, com fotografia, trilhas diferentes, narrativas divertidas. E isso me chamou muito a atenção porque me lembrava dos filmes de comédia romântica que eu adorava na adolescência.

A possibilidade de contar uma história totalmente diferente a cada fim de semana me fascina. Muda o cenário, mudam as pessoas, muda o desafio. Diferente da Publicidade, onde eu fazia um job lindo e recebia um tapinha no ombro (no melhor estilo “apenas fez sua obrigação”), nos casamentos eu sinto que realmente faço a diferença na vida daquelas famílias. É uma responsabilidade e um privilégio muito grande poder eternizar as memórias de alguns dos dias mais incríveis da vida de alguém.

Você já parou pra pensar que o casamento é provavelmente a ÚNICA ocasião na vida em que todas aquelas pessoas estarão reunidas num mesmo ambiente?

Créditos- Olga Santos

F: Um dos diferenciais do seu trabalho é o storytelling, nos conte como ele transforma suas produções?

O: O storytelling cria um fator surpreendente nos vídeos. A partir do momento que eu busco uma narrativa única para cada produção, o espectador não sabe o que ele vai encontrar antes de dar play. E, principalmente, num mercado recheado de fórmulas prontas (basta você rolar um pouco o Instagram pra ver as mesmas cenas, as mesmas trilhas, as mesmas construções), isso cria um diferencial enorme.

Ao desenvolver os “personagens” (entre aspas porque estamos falando de pessoas reais, e não de ficção) a audiência realmente consegue enxergar os indivíduos ali: pessoas reais, que choram, riem, ficam bêbadas, falam bobagem. Então o storytelling cria esse elemento de conexão, afinal são “gente como a gente” e não meros modelos com um vestido branco e um terno sendo dirigidos o tempo todo.

O storytelling também abre um leque de possibilidades, de contextos maiores: onde esse evento acontece? Em que época? Quais são as histórias paralelas que estão rolando ali?

Exemplo: tive um vídeo na praia que a expectativa era um dia lindo de sol, com marzão no fundo, e caiu uma chuva histórica na Bahia – pensa num dilúvio! Eu poderia ter ignorado isso (afinal é uma coisa “negativa”) e focado só em cenas bonitas do casal, da noiva se arrumando, etc. Mas tendo virado a chave do storytelling, peguei esse antagonismo da chuva com muitas cenas de contexto, depoimentos sinceros do casal, e até reportagens de jornal do dia, e transformei num elemento de superação. Ou seja: sim, foi foda, foi difícil, mas ressignificou o real sentido de estarmos todos reunidos ali. E no fim o vídeo passa uma mensagem bonita, cheia de emoção.

Acredito que é justamente esse diferencial que atrai tantos casais incríveis que fazem questão de ter nosso olhar sobre a história deles, onde quer que ela aconteça no mundo.

F: Onde você busca inspiração?

O: Uma coisa que virou muito o jogo pra mim foi buscar inspirações justamente FORA do mundo dos casamentos. Quando a gente tá num nicho específico e só assiste referências desse próprio nicho, a tendência (ainda que inconsciente) de repetir o que já existe é enorme.

Pra mim o cinema é sempre a inspiração maior – e aqui me policio pra assistir coisas fora da minha zona de conforto também. Por exemplo: já peguei referência na narrativa singela do indie Nomadland (vencedor de Oscar, inclusive), a documentário blockbuster de banda de k-pop (detalhe: eu nem curto k-pop hahaha).

Também gosto muito da linguagem de videoclipes, canais de entretenimento/veículos (tipo Vogue, Vanity Fair, Wired) , bastidores de produções, fotógrafos russos, publicidade e por aí vai. Outro dia mesmo salvei uma propaganda de chicletes como referência – vai que, né.

Créditos- Olga Santos

Para quem deseja conhecer mais sobre seu trabalho, Olga mantém um podcast chamado “É foto ou vídeo”, um canal no YouTube e um perfil no Instagram, onde compartilha não apenas seus trabalhos, mas também suas ideias e opiniões sobre o mundo audiovisual. Além disso, ela ministra workshops, masterclasses e palestras pelo Brasil, divulgando sua abordagem única e inspirando outros profissionais do ramo.