As Mulheres no Mercado de Imagem – Entrevista com Julia Tonon
Na segunda entrevista do Projeto ‘Cria’, que busca destacar trajetórias femininas no mercado de fotografia e audiovisual, tivemos o prazer de conversar com Julia Tonon, diretora, produtora executiva e idealizadora de ‘A Veneta’, produtora audiovisual com atuação principal em São Paulo e Rio de Janeiro, responsável por trabalhos de publicidade para marcas como Nivea, Armani, Stella Artois, Globo, entre outras. Julia, nasceu no interior de Minas Gerais, graduou-se em publicidade e destaca-se por uma assinatura única em suas produções audiovisuais.
Créditos- Allan & Pat
F: Como e quando foi o seu início no mundo do audiovisual?
J: Comecei como estagiária, mais focadas em marketing e publicidade. Minha experiência com campanhas de marca, fotografia e vídeo me despertou o interesse pelo audiovisual ainda com 20 anos. Comecei a trabalhar em uma produtora, onde fiquei por cerca de três anos e eu acredito que foi ali que despertou o meu desejo. Mas para chegar na direção, eu andei por vários caminhos, fui muito tempo produtora, tentei cenografia, tentei fotografia, tentei de tudo. Até que durante a pandemia, eu estava morando com minha melhor amiga e fiz um filme dela como presente de aniversário, foi a partir disso que eu entendi que era direção que eu queria. Eu acho que a direção e a produção executiva hoje é o que mais me preenche, mesmo ainda querendo circular entre diferentes áreas e meios.
F: Suas produções, desde publicidade até projetos autorais, frequentemente apresentam referências tanto na estética quanto no roteiro. Isso facilitou ou dificultou sua inserção no mercado?
J: Muito obrigada! Eu acredito que facilitou, pois acredito que entender suas referências e incorporar seu olhar no trabalho que você realiza traz um posicionamento. Se identificar é muito importante na hora que você está criando. Em relação ao mercado, é um pouco mais difícil, porque você tem que bancar os seus desejos e o que você quer naquele momento como estética. A dificuldade pode existir, afinal, pode demorar para as pessoas entenderem ou elas podem entender super rápido. Hoje em dia, eu vejo, por exemplo, ‘Alice’, e ‘O seu Miranda’, que eu fiz há mais ou menos quatro anos atrás e vejo que faria muito diferente hoje em dia. Acredito em uma nuance nas nossas fases criativas, não excluo nenhuma delas, mas não me apego também.
F: Qual é a importância dos projetos autorais para impulsionar sua carreira no mercado?
J: Sobre projetos autorais, na minha percepção e experiência, é absolutamente tudo para você se colocar no mercado ou como artista. É um lugar muito importante também para você conhecer sua visão, sem ter uma agência ou uma marca por trás. Digo isso, no lugar de satisfação pessoal também, tanto por alguém te procurar pelo seu olhar, quanto por você se reconhecer – em diferentes campos – no seu próprio projeto.
A Diretora nos contou que fundou A Veneta há quatro anos, durante a pandemia, quando se mudou para São Paulo. Atualmente, a produtora tem atuação em São Paulo e Rio de Janeiro, realizando trabalhos em todo Brasil com 11 diretoras mulheres representadas pela produtora. Embora também trabalhem com diretores homens, a maioria esmagadora das produções até hoje foram dirigidas, roteirizadas e criadas por mulheres. A produtora nunca levantou a questão de gênero como um marketing, mesmo sabendo suas importâncias e apoiando a causa, é uma produtora que naturalmente vem sendo conduzida por mulheres, A Veneta é o que é!
F: Você atuou como produtora executiva no filme “Iboru”, dirigido por Marcelo D2 e Luiza Machado. Como foi essa experiência?
J: Sobre “Iboru”, conheci Luísa pela internet e nos encontramos em um show do D2. Embora nunca tivéssemos nos conhecido pessoalmente antes, senti uma conexão especial com ela, nos olhamos quando ela estava no palco e foi uma empatia recíproca. A convidei para participar do podcast da Veneta, que foi uma experiência marcante. Quando decidiram gravar IBORU em São Paulo, Luísa me chamou para participar do projeto. Trabalhar com eles foi incrível, foram muito abertos criativamente e valorizam sempre as sugestões da equipe. Um momento que que me marcou, foi quando estávamos no carro e colocaram o álbum “Iboru” para tocar, antes do lançamento. Marcelo aumentou o volume, e me recordo da luz que entrava no carro naquele dia, foram dias extremamente marcantes pra mim.
F: Por fim, o que te inspira a criar hoje?
O que me inspira a criar é quase uma forma de existência. Não consigo mais imaginar minha vida sem a criação hoje em dia. Para mim, é como matar a fome, como feijão com arroz. A arte desempenha um papel fundamental em todos os meus processos. A escrita e o exercício criativo são essenciais para mim. Não necessariamente para criar algo tangível, mas deixar minha cabeça ativa e não perder os pequenos prazeres.
Vindo de uma família com pais humildes e de uma cidade do interior, onde nunca houve muitos espaços culturais, como por exemplo, a primeira vez que fui ao cinema foi aos 16 anos. Foi um marco para mim perceber o quanto a arte é importante na minha vida.
Mesmo que eu não viva exclusivamente da arte, ainda me envolvendo muito com a produção e a parte mais empresarial da produtora, sei que estou em um lugar privilegiado. Trabalhar em uma área criativa, como filmes e comerciais, é um privilégio para mim.
O que me impulsiona é, literalmente, a necessidade de criar, que me faz sentir viva. Posso estar parada, olhando para algum lugar, e minha mente estará criando, armazenando informações de forma inconsciente. A criação não se limita apenas a algo palpável, mas também a uma atividade constante que permeia minha vida de diferentes formas